26 de jan. de 2011

Big Brother Brasil educa

Big Brother Brasil educa
Por Luciano Pires

Numa discussão sobre o Big Brother Brasil – que a cada edição bate recordes de audiência –, provoquei várias caretas ao dizer que considero o programa uma oportunidade fantástica de aprendizado. Quase apanhei, mas expliquei que tudo depende de como o espectador encara o programa. Se você procura mais que simples entretenimento, consegue assistir ao BBB de olho no impacto e influência de cada participante sobre os demais. Ah, eles são vazios? São. Mas são gente como a gente.

êencontra ali uma inestimável aula de antropologia, sociologia e política, com exemplos claros de como funciona a vida em sociedade. Verá os conflitos, as intrigas, a dissimulação, as mentiras, a manipulação, a generosidade e o medo, todos aqueles pequenos truques, pecados e atitudes com os quais convivemos no dia a dia. Está tudo ali, exposto para quem quiser ver – e aprender. Assistindo ao
Big Brother Brasil como uma vitrine de comportamento, você aplicará seu tempo em aprendizado.

Mas, se você escolher assistir ao BBB como mero entretenimento, para ver as bundas das moças ou os muques dos moços, quem fica com quem, qual fica bêbado ou uma baixaria qualquer, terá aplicado seu tempo apenas em fofoca. O
Big Brother Brasil só é um sucesso estrondoso de audiência por explicitar claramente nossas fraquezas e atender àquele irresistível impulso que todos temos para o voyeurismo: espiar os outros sem ser notado. Quem escolhe se vai aprender com isso é você.

Bem, antes que venham as pedradas, deixe-me dizer como iniciou essa reflexão: li num artigo recente que somente 10% da população tem disposição para aprendizado. São as pessoas que vão atrás, gostam e sentem prazer em aprender. Os outros 90% nunca vão se importar em ampliar seus conhecimentos e habilidades até que sejam obrigados a isso – pressão do trabalho, por exemplo. Só 10%, já pensou? E justamente hoje, quando vivemos naufragados em informação... Nesse cenário, é preciso refletir sobre um processo fundamental: o da educação continuada.


Aprender e estudar continuamente é a única forma de enriquecer nossa capacidade de análise, de compreensão do mundo, de tomada de decisão e de lutar para não ser eterna vítima de quem sabe como manipular as pessoas. Mas esse “estudar” não deve ser entendido apenas como frequentar uma sala de aula com professor ou mergulhar num livro de matemática. Você pode estudar lendo um romance ou uma história em quadrinhos, assistindo a um filme de aventura, ouvindo rock, observando as pessoas que passam pela rua ou seus colegas aí ao lado. 


Éa predisposição para aprender que confere aos acontecimentos um sentido pedagógico, entendeu? A capacidade pedagógica não está no acontecimento em si, mas na escolha que você faz diante dele. Assim, é possível assistir ao Programa do Gugu ou da Luciana Gimenez (nunca inteiros, é verdade), por exemplo. São fantásticas oportunidades de estudar como – por meio de um rótulo de “entretenimento” – a televisão aliena as pessoas.

Entretenimento é desculpa para tudo. Exime quem produz o lixo – no jornal, revista, livro, rádio, televisão, teatro, cinema, música e internet – de qualquer responsabilidade com algo além de “matar o tempo” das pessoas. Um pecado... No entanto, o dono de seu tempo é você. Você escolhe o que fazer com ele, para quem vai dar atenção. Você escolhe seu olhar.


O
Big Brother Brasil é um projeto milionário muito bem-sucedido. Por mais que você esperneie, ele vai continuar no ar, batendo recordes até a fórmula se esgotar. “Matará o tempo” de 90% das pessoas que o assistem. Mas os 10% dispostos a aprender farão dele uma aula.

Luciano Pires
é palestrante, executivo, comunicador multimídia, cartunista, aventureiro, jornalista, escritor e contador de histórias.

* Recebido por e-mail. 

Um comentário:

  1. Paulo Trigueiro (@pectrigueiro)16 de fevereiro de 2011 às 19:53

    Li o texto do Luciano Pires. Conclusão: de tudo que diz ser eu acredito que realmente ele é um contador de estórias.

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